Alcança-se a beleza quando se chega a plasmar com maestria, até o mais terrível, o mais trágico, o mais temido... e disso, Caravaggio cuidou muito bem. Assim construiu-se a tragédia grega, assim floresceu a poesia... a música, assim se escreveram os dramas de Shakespeare, nasceram as pinturas de Solana e as aventuras de Dom Quixote.
A beleza está, quando nos revela completamente a natureza do poder, do desespero, o mais baixo da natureza humana, onde o fugaz se torna eterno, onde as minhas tempestades... se tornam as nossas tempestades. Os Comedores de Batata, Dois velhos comendo sopa, O incêndio de Roma, a Velha mulher fritando ovos, Tempestade de neve... resplandecem decentemente. A beleza também é decadência. E, se a beleza se inspirou na natureza, o que é a natureza? A natureza é terrível… também. O terrível é caótico e diariamente, dançamos no meio do caos. A beleza é o equilíbrio. A beleza não se resume em buscar a ordem, trata-se de criar ordem a partir do caos... de encontrar a beleza a partir do caos. Ao final, o bonito é belo?
A beleza é construída.
Beleza é reinterpretação.
A beleza é transcendência.
A beleza é seduzir os instintos.
A beleza une o terrível ao sublime,
a tragédia de sua contradição.
A beleza não existe para ser amada,
está para ser compreendida.
Beleza é consistência.
A beleza sublima a dor humana.
A beleza exorciza a superficialidade.
Beleza não é panfletagem.
A beleza está em tudo ao nosso redor
e, em infinitos momentos, passa despercebida.
A beleza é alcançada em um traço,
em um som,
em uma palavra,
num olhar...
no vício pela sua presença.
Comments