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Envenenados e envenenadores

Entre o remédio e o veneno existem apenas algumas gotas de distância. Venenos são substâncias presentes na natureza. Plantas e animais possuem-no como um elixir secreto que foi mitificado pela literatura e faz parte da imortalidade de muitas histórias. Existem envenenados e envenenadores. Vejamos alguns relacionados à arte. 


Jacques-Louis David (1748-1825), "A morte de Sócrates", 1787.
Jacques-Louis David (1748-1825), "A morte de Sócrates", 1787. 

O veneno tem sido usado deliberadamente como um meio de eutanásia de criminosos e condenados pelo estado. A poderosa Atenas, a principal cidade da Grécia antiga e o berço da democracia, foi um desses estados. A pintura representa a cena de morte do filósofo grego Sócrates, por ter sido contra as ideias dos atenienses e corromper a mente dos mais jovens. Sócrates tinha a opção de ir para o exílio (e, portanto, desistir de sua vocação filosófica) ou ser condenado à morte. Sócrates escolheu a morte. No quadro, de vestes vermelhas, um discípulo de Sócrates, segura a taça de veneno Cicuta (da planta Conium). A mão de Sócrates aponta para o céu, indicando a sua reverência aos deuses e atitude corajosa pela sua morte. 


Charles de Steuben (1788–1856), "A morte de Napoleão", c. 1828.
Charles de Steuben (1788–1856), "A morte de Napoleão", c. 1828.

Em 5 de maio de 1821, com uma violenta tempestade assolando a ilha, aos 51 anos Napoleão morreu, segundo a opinião do médico, não de um câncer no estômago, e sim, devido a uma ulcera sem os devidos tratamentos, que comera os seus órgãos vitais de forma brusca. Existindo controvérsias quanto a causa da morte, que teria sido ele assassinado por envenenamento.


Uma hipótese muito difundida é a de envenenamento deliberado por arsênico ou, segundo outros, por exposição crônica ao arsênico. A hipótese de intoxicação por arsênico por exposição ganhou força na década de 1980. O arsênico estava presente nas casas do século XIX: em cosméticos, tônicos para o cabelo, cigarros, cera de lacre, panelas, repelentes de insetos, veneno de rato, cobertura de bolo e até nos papéis de parede e cortinas tingidas de verde – usados na residência de Napoleão em Santa Helena. O mofo acumulado nos papeis de parede e cortinas exala gases venenosos e poderiam ter contribuído para o declínio da saúde do imperador francês.  


De fato, análises feitas, em 2002, pelo toxicologista francês Ivan Ricordel nos cabelos de Napoleão mostram alto teor de arsênico. Estudos franceses mostraram que Napoleão imergia seus cabelos diariamente em banhos de arsênico pela crença popular de que esse produto prolongava a vida e o brilho dos cabelos – o que explicaria a taxa anormalmente alta de arsênico encontrada nos cabelos de Napoleão.


Pierre-Charles Comte (1823-1895), “Jeanne d'Albret comprando luvas envenenadas do perfumista de Catherine de' Medici, René”, 1852.
Pierre-Charles Comte (1823-1895), “Jeanne d'Albret comprando luvas envenenadas do perfumista de Catherine de' Medici, René”, 1852. 

Em 4 de junho de 1572, dois meses antes do casamento, Jeanne d'Albret voltou para casa de uma de suas excursões de compras se sentindo mal. Na manhã seguinte, ela acordou com febre e reclamou de uma dor no lado superior direito do corpo. Cinco dias depois, ela morreu. Um boato popular que circulou logo depois sustentou que Jeanne havia sido envenenada por Catarina de Médici, que supostamente lhe enviou um par de luvas perfumadas, habilmente envenenadas por seu perfumista, René Bianchi, um colega florentino. A pintura representa a cena: Jeanne d'Albret, acompanhada de seu filho Henri de Navarra e Marguerite de Valois, vem comprar de René, as luvas que a envenenaram. Uma autópsia, no entanto, provou que Jeanne havia morrido de causas naturais. 


Joseph-Noël Silvestre  (1847–1926), "Locusta testando veneno em um escravo", 1870 e 1880.
Joseph-Noël Silvestre (1847–1926), "Locusta testando veneno em um escravo", c.1870 -1880.

Há 2 mil anos, Roma viveu um constante estado de guerra entre imperadores e imperatrizes. A principal "arma" escolhida pelas partes era sempre o veneno. Por ser mais discreto que as demais ferramentas, uma pessoa poderia ser facilmente envenenada sem que ninguém tomasse culpabilidade pelo crime. 

 

E, nesse ponto, uma mulher ficou conhecida por suas habilidades, o nome dela era Locusta da Gália, que se tornou a assassina particular para o notório Imperador Nero. Suspeito de que seu meio-irmão Britânico pudesse lhe atacar, Nero solicitou os serviços de Locusta para acabar com a vida de seu rival. Nero teria prometido perdão para a envenenadora, que tinha longo histórico criminal, caso ela conseguisse entregar a mistura mortal a tempo. 

 

De alguma forma, o produto criado por Locusta não conseguiu matar Britânico. Furioso, Nero chegou a esbofetear a mulher e ordená-la a testar substâncias ainda mais poderosas e letais em pessoas inocentes até que os dois conseguissem atingir o objetivo final de acabar com a vida do meio-irmão — o que, de fato, aconteceu. 

 

A pintura retrata Locusta testando um veneno criado para matar Britânico enquanto Nero observa. Um escravo está deitado no chão na frente de Nero e Locusta, em perigo após receber o veneno. 

 

Após o sucesso da missão, Locusta foi promovida a envenenadora oficial do imperador e pediu para que ela ensinasse a arte dos venenos a pupilos.  


Alexandre Cabanel (1823-1889), "Cleópatra testando venenos em prisioneiros condenados", 1887.
Alexandre Cabanel (1823-1889), "Cleópatra testando venenos em prisioneiros condenados", 1887. 

A pintura mostra Cleópatra reclinada em um banco e observando os efeitos dos venenos em prisioneiros condenados à morte, conforme descrito nas Vidas de Plutarco de Marco Antônio. O maior apelo desta obra está na história real da vida de Cleópatra, ou melhor, de sua morte. Na pintura, ela está testando venenos para encontrar o menos doloroso e o mais eficaz. Seu objetivo era criar o veneno perfeito que ela finalmente usou para seu próprio suicídio. 


Evelyn de Morgan (1855-1919), "Poção do amor", 1903.
Evelyn de Morgan (1855-1919), "Poção do amor", 1903.

A "Poção do amor" é uma pintura que retrata uma feiticeira preparando uma poção do amor, tendo aos seus pés um gato preto familiar. É uma forma mítica de beberagem, feita por feiticeiros, que seria capaz de provocar em alguém os sentimentos amorosos em relação a outrem. É uma forma de feitiço de amor, capaz de provocar o gostar em alguém. Para a bruxaria e o herbalismo, trata-se de afrodisíaco que teria o poder de fazer uma pessoa se apaixonar por outra, geralmente aquela que vir primeiro. 


Os venenos desempenharam um papel preponderante em muitas civilizações e seu uso é tão antigo quanto a própria existência. Usados na guerra, no assassinato, na medicina, no amor, etc., podemos ver que a aplicação do veneno ao longo da história tem sido variada e muitas vezes surpreendente. Olhando para a história pelo prisma do "veneno", entramos em contato com tópicos tão diversos quanto lei e ordem, crime, justiça, morte, suicídio, política, guerra e muito mais. 

 

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